Pinto para ver se encontro no foco dos meus olhos a calma para o som que em meus ouvidos não cessa. No entanto o acrílico sobre as telas vai virando outra música que não me deixa dormir. Pinto para fazer barulho, toco para criar imagens e escrevo para desmanchar as ideias. Desenho o que nunca vi, componho o que não escuto e escrevo sobre o que não sei. Cada traço e cada ruído escondem um jogo de palavra, silenciam a agonia de quase ter tocado uma certeza. Os verbos de artifício brilhando no céu da busca por sentido. Significados de fumaça indicando alguma fogueira de existir. Os que protegem da chuva as brasas noite após noite, nunca aprendem a iniciar o fogo. Saber iniciar não dá domínio sobre o iniciado. Feias flores são as certezas; brotam na terra adubada pelas lindas ilusões em decomposição. Saudade dos versos ingênuos da minha juventude. Nenhuma saudade da estupidez de me pensar imortal. A saudade que há se soma a saudade que não há, virando saudade dobrada. Assim a matemática volúvel do coração; coagula em sangue nas luvas do cirurgião. Como é vivo o vermelho que fora do corpo logo secará num escuro opaco.